quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Finados - Quando eu morrer...


Por Pastor Giuliano Coccaro

1 Co 15.19: Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens. Desde já fica avisado, quero que um hino seja cantado em meu ofício fúnebre: Júbilo no Céu (número 335 do Hinário Novo Cântico). A 1ª. estrofe diz: “Oh! Que belos hinos cantam lá no céu, pois do mundo o filho mau voltou! Vede o Pai celeste prestes a abraçar, esse filho que ele tanto amou”. Isso mesmo. Um hino bem alegre. Por quê? Para ser diferente? De jeito nenhum. Muito pelo contrário.

A razão é simples, porque sempre trago em meu coração a certeza de que só há morte real quando Deus não faz parte da vida. Fico tranquilo, pois sei que as vontades do finado, via de regra, são respeitadas. Mas deixando as amenidades, vamos ao que interessa. Claro que não a minha morte, pelo menos por enquanto. O que nos interessa é discorrer sobre o nosso destino, aquele contra o qual todos nascem lutando.

Você pode estar pensando que esse papo é deprimente, macabro demais para quem acredita na imortalidade desse corpo corruptível, que traz por detrás de cada ruga um convite inadiável à sepultura. Seja realista, exceto aqueles que serão contemporâneos do retorno de Cristo, cada um de nós receberá o toque das mãos frias da morte a fechar os nossos olhos e a escrever a última página de nossa biografia. Como bem diagnosticou Quevedo (1580 -1645): “O que chamais morrer é acabar de morrer, e o que chamais nascer é começar a morrer, e o que chamais viver é morrer vivendo”.

Diante do aspecto passageiro da existência humana, Jesus declarou: Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam (Mt 6.19-20). Ou seja, trabalhe por algo que vai perdurar e ecoar por toda a eternidade. Pois a vida passa como uma simples neblina.

Outra realidade, além da inconstância de nossa peregrinação, é que a morte aflige o ser humano. A certeza dela, ligada à incerteza da sua hora, é fonte de angústia durante nossas primaveras. Obviamente que com toda razão. O gênero humano não foi criado para morrer. A morte foi um acidente, do qual Adão e Eva tornaram-se protagonistas.

A morte, entretanto, não deve nos assustar. Alguns entenderam assim. Inclusive pessoas que não acreditavam em vida após a morte. Pasme você. Tem gente ateia que enxerga esse momento indesejável pela maioria de nós com bons olhos. Um deles, ganhador do Nobel de Literatura e já finado, José Saramago, escreveu um livro intitulado “As intermitências da Morte”. Ateu convicto, o escritor português entendia a morte como um mal necessário. Imagine se a morte não existisse.

A população aumentaria, os hospitais lotariam (ainda mais), as doenças se alastrariam, e a dor dos agonizantes se perpetuaria, entre outras situações catastróficas. Se um agnóstico consegue acenar para ela desse jeito, qual o motivo de sentirmos calafrios diante da morte face à realidade de nossa ressurreição? A saber, aqueles que estão em Cristo, o primeiro a vencê-la.

A iminência da morte faz o homem pensar. Leva-o a chorar pelo outro, mas a refletir sobre si. Sente-se numa fila única sem saber o número de sua senha. Edgar Morin, sociólogo e filósofo francês, escreveu que “a angústia da morte sobre o espírito humano leva-o a interrogar-se sobre os mistérios da existência, o seu destino, a vida, o mundo”. É verdade. E não por mera coincidência, a Bíblia apresenta respostas positivas aos nossos dilemas existenciais angustiantes. O apóstolo Paulo afirmou em algumas oportunidades sua visão otimista do além, em uma delas declarou: “Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fl 1.21). No coração de Paulo, partir e estar com Jesus era incomparavelmente melhor (Fl 1.23).

Quando eu morrer, quero que, ao lado do choro da saudade, irradie a alegria da esperança, pois será o meu encontro com Jesus e o tão esperado ingresso na glória dos céus, o paraíso celeste. Quando eu morrer, espero que você não me dê adeus, apenas um até logo ou “te vejo em breve”. Quando eu morrer também não diga que você me perdeu, pois a gente só perde aquilo que não sabe onde está. Eu, em contrapartida, sei para onde vou e com quem vou quando eu morrer, e espero te ver por lá, com Ele.

Quando eu morrer, desejo que ninguém vá me visitar no cemitério, pois não estarei lá. Muito menos pagar aluguel, não pretendo dar despesas depois de morto. Num período em que a morte é lembrada como nunca, pois é o Dia de Finados, faço o estranho desafio para você considerar a possibilidade de sua morte. Junto a isso, Aproveite a vida. Faça cada segundo dela valer a pena. Ame as pessoas, nas palavras do poeta urbano: “como se não houvesse amanhã”. Viva intensamente. Mas quando a morte, enfim, vier chamar, tenha certeza que, nos céus e com o Senhor, você irá morar. Nele, o Autor da Vida.


Fonte: LPC

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